Filha de uma família nobre, Clara nasceu em 1193, na pequena cidade de Assis, da qual irradiaria uma luz que mudou a história da Igreja. Doze anos mais jovem que Francisco (1181-1226), ela apaixonou-se pelo mesmo sonho evangélico que o levou a abandonar riquezas e prestígio.
Assim decidida, a jovem Clara deixou sua casa num gesto simbólico: saiu pela pequena porta dos fundos, destinada aos mortos. Morria a dama, nascia a santa, a maior colaboradora e amiga que Francisco teve. Considerava-se a “plantinha” de Francisco e foi a verdadeira intérprete do ideal de pobreza e simplicidade que moveu o franciscanismo.
Era de caráter decidido e corajoso, ao mesmo tempo discreta e presente, mulher de oração e do radicalismo das bem-aventuranças. Um dos traços mais marcantes de sua personalidade é a alegria e a ternura que sempre demonstrou, aliadas a um bom senso esclarecido, mas não resignado.
De Francisco foi conselheira e irmã, sustentando – com sacrifícios e oração – sua missão e vida. Assim como Francisco, tinha um ardente desejo de ser missionária em terras distantes. Quando soube do martírio dos primeiros cinco frades franciscanos no Marrocos, também quis partir e enfrentar o combate pela fé, mas foi dissuadida pelo próprio santo.
Entretanto, às suas orações e de suas irmãs do Convento de São Damião (mais tarde denominadas clarissas), o papa Inocêncio IV recomendou toda a cristandade que, naquele tempo, temia as invasões árabes e dos mongóis.
Após sua morte e com a partida das clarissas para vários países, o martírio de inúmeras irmãs confirmou o espírito missionário que a animava. A imagem mais tradicional de Clara de Assis é com o ostensório nas mãos, lembrando a ocasião em que enfrentou os muçulmanos que queriam invadir o mosteiro em que vivia. Em seu leito de morte, dialogando com o papa, disse-lhe: “Minhas queridas irmãs e eu, sua indigna mãe e serva, recomendamos ao Senhor, todos os dias, os esforços da cristandade e o êxito das peregrinações apostólicas dos Frades Menores.
Fazemos penitência e oferecemos nossos sacrifícios e dores para a exaltação da santa Igreja, pela união dos príncipes cristãos, pela conversão dos infiéis e para que o Amor seja amado em todo o mundo”. Morreu, louvando a Deus por tê-la criado. Em sua bula de canonização há um elogio luminoso: “Que força emana desta luz e até onde se estende o esplendor de sua claridade! Enquanto aquela luz permanecia fechada no segredo da clausura, emitia para o exterior seus esplêndidos raios; ocultava-se no interior de um mosteiro, mas difundia sua luz no vasto mundo; mantinha-se dentro, mas iluminava fora”. Em 1958, Santa Clara foi proclamada padroeira da televisão.