FELIZ QUEM CRÊ SEM VER
O apóstolo Tomé é sempre citado como aquele que não crê sem antes ter visto e tocado. É apontado assim como o referencial dos incrédulos. Sua recusa obstinada em aceitar o testemunho dos demais apóstolos é o sintoma da dúvida que existe em todo coração humano. Desde os incrédulos mais eruditos como os filósofos, os céticos que só aceitam a evidência mediante provas tangíveis, os obstinados que exigem que Deus prove que existe, os desconfiados que temem crer em mitos, aqueles provocadores que dizem não ter voltado ninguém do além para confirmar o que lá existe. Todas essas posições revelam o limite da inteligência humana que se vê desafiada por fenômenos e realidades que a ultrapassam. Revelam o receio do engano, de crer na inverdade ou de incorrer ingenuamente em infantilismos ou em crendices. O grande Santo Agostinho peregrinou por inúmeros sistemas filosóficos e religiosos levado por dúvidas, enganos e experiências equivocadas, até chegar à definitiva conclusão: o coração humano estará inquieto enquanto não descansar em Deus.
A severa advertência de Cristo a Tomé denuncia essa arrogância humana que quer sinais sensíveis para crer, sem se dar conta que a exigência de provas é a negação do próprio ato de crer. “Acreditas-te porque viste Tomé. Felizes o que creram sem terem visto”(Jô 20,29). Jesus proclama felizes os que praticam a verdadeira fé. A felicidade está, portanto condicionada à fé. A autêntica fé é a que consiste na adesão incondicional à pessoa de Jesus Cristo e à sua proposta. Quando se entra no âmbito da fé, calam-se os sentidos, cessam os raciocínios e a lógica humana e permanece a total confiança na revelação divina. É o risco de crer sem ver, confiar sem exigir provas, aceitar sem contestar a Palavra e aderir sem hesitação à verdade proposta. Fé não é sentir, mas saber. Não é emoção, mas convicção. Não é evidência, mas certeza. “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem” (Hb 11,1).
Será infeliz quem só crê vendo? Não é certamente uma atitude madura, mas um caminhar que supõe muletas, que se arrasta numa dimensão terrena, material e infantil. Será sempre uma postura volúvel, facilmente manipulável. Uma crença mutilada, empobrecida que não vai além dos horizontes estreitos do alcance humano. A verdadeira fé avança para os horizontes do sobre-humano, do divino na contemplação dos mistérios de um Deus incognoscível para a nossa razão mas que é precisamente o objeto da fé.