Missão PARÓQUIA SANTÍSSIMA TRINDADE – IGREJA EM SAÍDA
Missões na Comunidade Nossa Senhora Aparecida
De graça recebestes, de graça deveis dar Mt 10,8
Em comunhão com a Igreja e com o Papa Francisco que pede uma Igreja em Saída, a Paróquia Santíssima Trindade, em 2014/2015, deu sequência à formação de lideranças, em um encontro mensal na primeira quarta-feira, com a finalidade de preparar os agentes de pastoral para o trabalho missionário nas comunidades das periferias da paróquia.
Profundo conhecedor da realidade dos moradores dos bairros que fazem parte do Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis, (pois se faz igual a eles em tudo; vivendo, rezando e vivendo com eles), pe. Vilson Groh, assessor da Paróquia, em suas falas nos sensibilizou para a necessidade de sairmos ao encontro dos irmãos mais desfavorecidos, das comunidades Nossa Senhora Aparecida a e da Comunidade São José.
A saída em missão consistiu, num primeiro momento, na leitura da realidade dessas comunidades em dois sábados pela manhã. Coordenados por frei Justino e PE. Vilson, aleatoriamente, visitamos famílias das duas comunidades e entramos em contato com as dificuldades, de toda ordem, vividas pelas famílias que ali vivem.
Antes das visitas, porém, fazíamos a Leitura Orante da Palavra, conduzida por PE. Vilson e frei Justino. No final da manhã, nos reuníamos na Igreja da comunidade visitada e ali acontecia a partilha e encaminhamentos. Como ação concreta das partilhas realizadas, em 2014, algumas famílias, das duas comunidades, receberam assistência de um grupo de voluntários e da Assistente Social da Paróquia, especialmente na construção ou reconstrução de suas casas.
Ao retomar as atividades pastorais em fevereiro de 2015, a Paróquia Santíssima Trindade optou por concentrar as visitas, somente, na Comunidade Nossa Senhora Aparecida, pois, no entender de frei Justino, as lideranças dessa comunidade enfrentavam maiores dificuldades em articular suas ações pastorais que as lideranças da comunidade São José.
Sensibilizados com a situação vivida por moradores dessa comunidade não foi difícil, para um grupo de voluntários da Paróquia, juntamente com frei Justino, organizar uma ação permanente de apoio à Comunidade atendendo as necessidades coletivas mais urgentes como: melhoria no acesso às residências, água, luz, moradia, viabilizar a construção de espaço
de lazer e encontros comunitários, esgoto, lixo, catequese, participação nas missas entre outras.
Cada membro do grupo se responsabilizou por uma ou mais demandas e no decorrer do mês procurava a melhor forma de mediar as necessidades da comunidade às esferas responsáveis pela execução de tal demanda. Na reunião do primeiro sábado de cada mês tudo é socializado com as lideranças da comunidade para num trabalho de partilhado entre Comunidade, Paróquia e poder Público encontrar a maneira mais eficiente de realizar as obras necessárias.
No terceiro sábado de cada mês, o grupo de voluntários das Demandas Coletivas da Comunidade, se junta a um grupo maior de lideranças da Paróquia Santíssima Trindade para as visitas aos moradores com objetivo pastoral e evangelizador.
Como sempre, na Igreja da Comunidade, acontece a Leitura Orante da Palavra e logo após, numa atitude de profundo recolhimento interior, saímos em pequenos grupos à missão. Cada grupo é acompanhado por lideranças da comunidade que indicam os caminhos a percorrer entre as infinitas ruelas e trilhos. No final do turno, nos reunimos e partilhamos o que vivenciamos e num gesto de unidade paroquial e pastoral, levamos as sugestões de todos, no encontro mensal de formação na primeira quarta-feira do mês, no Centro de Pastoral da Paróquia para tomada de decisões em conjunto.
E, nesse movimento de ação, reflexão e ação a Paróquia Santíssima Trindade vem se aproximando do que o Papa nos pede; sair às periferias urbanas e existenciais e livre de qualquer preconceito ou exclusão acolher nossos irmãos necessitados.
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA:
Missões na Comunidade Nossa Senhora Aparecida/23/05/15 (missionárias A,B e C)
Manhã ensolarada, temperatura agradável, ótima para mais uma visita à Comunidade Nossa Senhora Aparecida do morro da Penitenciária. Por volta das 8 horas nos encontramos na Igreja da Comunidade. Frei Justino, nosso pastor, conduziu o momento da Leitura Orante da Palavra que consistiu no Evangelho de Jo 20, 19-23.
Bem motivados e cientes de nosso compromisso de batizados partimos à visitação. Nosso grupo iniciou a visita num espaço localizado logo abaixo de uma Pedra Gigante, na subida pelo lado direito da Igreja Nossa Senhora Aparecida. (como as ruelas que se separam os conjuntos de casas não tem nomes, por isso precisamos descrever os caminhos utilizando elementos da natureza).
Na pedra, três meninos empinavam pipas. Tentamos conversar com os eles, mas os meninos não interagiram conosco. Para eles, o importante era a brincadeira. Parece ser ali um local de encontro dos pequenos para as brincadeiras de sábado.
No alto, as casas estavam com as portas fechadas; as pessoas ainda dormiam. Muitos cachorros as vigiavam. O ambiente externo revelava a triste realidade. Lixo de todo tipo espalhado pelo chão, água escorrendo e o acesso às casas muito difícil.
Não conseguimos visitar nenhuma das casas localizadas próxima à Pedra. . Depois de várias insistências, decidimos retornar a ruela principal. Ao retornar, tentamos conversar com os meninos mais uma vez. Ouvindo nossa voz, um senhor apareceu e com ele conseguimos uma conversa um tanto superficial.
Andando mais pouco, vimos a moradora A, uma linda mulher, de aproximadamente trinta anos, sentada na escada de uma casa-bar acariciando um cachorro. Ao lado da escada, deitado, via-se um cachorro preto da raça Lavrador que também recebia carinho da moradora. Começamos um diálogo com ela. Para nossa surpresa o homem que mal havia conversado conosco, na Pedra, apareceu na casa-bar. Entrou e ficou observando o que estava acontecendo. Conversamos com a mulher, enquanto seu companheiro se ocupava com as coisas da casa.
A moradora sentia necessidade de falar. Nós nos limitamos a ouvi-la. Em poucos minutos conhecemos sua história de vida. Vida sofrida que iniciara com exclusão na Escola, devido à sua condição social e se estendia pela adolescência e juventude. Muito cedo perdera seus filhos gêmeos (natimortos) e por gostar muito de criança adotou uma filha que, hoje,
mora aos fundos da casa de sua mãe. A filha da moradora A, também tem uma filha que frequenta a casa da avó e da bisavó, uma vez que a mãe da moradora A, mora logo abaixo. Como as casas são muito próximas, as crianças circulam de uma casa para outra com muita tranquilidade.
A filha da moradora A parece não ter um relacionamento tranquilo com a mãe. Apesar dos pedidos da mãe, a filha não quis conversar conosco dizia querer dormir e mostrava-se incomodada com nossa presença. Presença ausência para ela, pois ela só reconhecia que ali havia pessoas conversando com sua mãe, pelas vozes que, segundo ela, atrapalhavam seu sono do sábado de manhã.
Após muito ouvi-la, fomos convidadas a entrar. Falamos do objetivo da nossa visita e nos identificamos como missionárias da Igreja Católica. Ela nos pareceu confusa em relação ao Sagrado; diz-se muito apegada a Deus, embora não frequenta a Igreja e não pratica nenhuma religião.
Falava com orgulho de sua mãe. Sua mãe sempre morou no bairro (verdadeira guerreira), criou os filhos sozinha, pois o marido a abandonou. Hoje, sua mãe é aposentada e dividiu seu terreno em várias partes, assim conseguiu construir uma casinha para sua filha e neta.
A moradora A se ocupa com o cultivo de uma hortinha com temperinhos e chás, além de uns pés de couve. No fundo do quintal, ela cultiva uns pés de milho e uns pés de bananeira. Emocionada ela nos levou até as plantas. Há um espaço entre a casa-bar e os pés de bananeira. Aí ela pretende construir sua casinha para morar e no local do bar colocar uma mercearia. É preciso incentivá-la para isso. Assim tanto ela, quanto seu companheiro terão a possibilidade de ter uma vida mais digna.
Seu companheiro ficou ausente durante toda comunicação e o contato que tivemos com a moradora A. Aos poucos fomos conquistamos a simpatia de ambos. Eles aceitaram que fizéssemos uma oração na casa-bar. Foi muito forte o momento da oração. Na voz acolhedora das missionárias a moradora e seu companheiro lacrimejaram.
Feita a oração era momento de continuar a visita. A moradora não queria que partíssemos. Sentia-se segura e protegida conosco por perto. No entanto sua neta nos tomou pela mão e nos levou a casa de sua bisavó, a moradora B.
A moradora B mora em uma casa bem acabada, limpa e cuidada. Assim que a vimos ficamos emocionadas. Já idosa, queixava-se de fortes dores no braço e na coluna. Ela insistia em nos dizer que estava com enorme fadiga, pois não havia dormido a noite, devido às dores e preocupações com os familiares.
Visivelmente abatida, revelou que sofre muito com o comportamento da filha. Ela necessita de apoio psíquico afetivo e orientação para lidar com a filha. Ao despedirmos nos comprometemos em rezar para que ela pudesse ter noites mais tranquilas. Tanto a moradora A, quanto a moradora B, solicitaram nosso retorno.
Pensativas, andamos mais um pouco e fomos recebidas pela moradora C numa casa muito bem arrumada e aconchegante. Aos poucos a moradora C foi revelando sua história. Disse-nos que foi catequista da comunidade numa época em que os freis (estudantes) faziam um grande trabalho na Comunidade. A Moradora C sente enorme saudade daquele tempo que a Igreja estava sempre cheia de gente. Ela continua frequentando a missa, mas afirma que seus filhos, noras, genros, netos e netas (todos trabalhadores e da paz), tem a liberdade para seguir essa ou outra religião. Fala com entusiasmo dos netos e netas. Todos lindos, espertos e saudáveis.
Já com o horário praticamente esgotado (11horas), caminhávamos em direção á Igreja da Comunidade para nos encontrarmos com as demais equipes e iniciar a partilha. Muito próxima à Igreja, na cozinha-sala de uma casa ouvia-se vozes, risos e viam-se crianças brincando. Um jovem- senhor, morador D nos reconheceu e insistiu para que entrássemos e conhecêssemos seus três filhos. Houve uma conversa afável entre o morador D, nossa equipe e a MORADORA F, mãe do jovem.
O morador D está construindo uma casinha, ao lado da casa da mãe, enquanto isso mora ali com seus filhos e a esposa. Além dos filhos do morador D, a moradora F atende os filhos de seus outros dois filhos, enquanto os pais trabalham. Ela solicitou catequese de Batismo e de Primeira Eucaristia para dois de seus netos com (12 ) e (08) anos respectivamente. Concluímos a visita com a oração do Pai Nosso e com algumas brincadeiras com as crianças.
Foi uma manhã de muita Graça. Saímos com a certeza de que é necessário sairmos de nosso conforto para estar com nossos irmãos para ouvi-los, acolhê-los e levar a Palavra de Jesus, independente da situação em que vivem e a religião que praticam.
Por Clelia