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Os ricos se salvam?

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mc 10, 25).

clp

A passagem do evangelho citada nesse texto foi criticada ou melhor ridicularizada por um famoso escritor que dizia que foram alguns idiotas que inventaram essa história. E que tais idiotas queriam aproveitar-se do analfabetismo da época e explorar o trabalho escravizando os pobres.

Sabemos que o “ idiota” que fez tal afirmação chama-se Jesus Cristo. Que dizer de tal postura? Arrogância, orgulho, ignorância, petulância, frustração ou revolta pessoal, ou talvez discordância radical do Evangelho?

Na verdade não vale a pena perder tempo em considerações sobre pessoas que se metem a opinar sobre assunto que não é da sua área. Antes, interessa mesmo é saber o que Cristo quer dizer com esta afirmação, eterna, infalível e inquestionável como toda palavra divina.

Quem são esses ricos que não cabem no Reino de Deus? O fato de ter dinheiro certamente não é pecado, não condena ninguém. Desde que adquirido honestamente e usado com justiça. O obstáculo a entrar no Reino não está no bolso, mas no coração. O que vem de fora não torna o homem impuro, mas sim o que sai do coração (cf. Mc 7). O que condena é a idolatria do dinheiro que é um mal do coração e pode padecer desse mal também quem não tem dinheiro. A soberba, a auto suficiência, a arrogância quem vêm associadas ao dinheiro são grave pecado. O dono do capital que quer se fazer dono também das pessoas que mantém o seu patrimônio está no caminho da condenação. O orgulho da apropriação torna o homem grande a seus próprios olhos e por isso não passa na porta do céu que segundo Cristo é estreita. O abastado que se senta num trono e quer que os outros venham aos seus pés como se fosse um deusinho, que prescinde do próprio Deus substituído pelo deus dinheiro certamente não se salva enquanto não se converter.

Não sei qual o patrimônio do escritor que chama Cristo de idiota, mas certamente não será condenado por aquilo que tem, mas sem dúvida pode se condenar por essa atitude idiota de julgar presunçosamente a Cristo, de chamar estudiosos da Bíblia de “exegetas de botequim”, de não acreditar em vida futura e por outras idiotices que ele defende.

Diz-se que o dinheiro é um ótimo servo, mas um péssimo patrão. Aquele jovem do evangelho foi embora triste porque era muito rico. Voltou as costas para Cristo e preferiu seu dinheiro. Cristo foi preterido, trocado por valores materiais. Entende-se a indignação dele e a severidade das suas afirmações. Todo aquele que em vida faz opção pelos bens materiais não pode esperar que Deus o acolha no Reino que ele rejeitou.

A passagem do Evangelho que estamos comentando não é isolada, mas é o pensamento constante de Jesus, sobretudo em Lucas. No contexto das bem-aventuranças ele afirma: “Ai de vocês ricos, porque já receberam a sua recompensa” (Lc 6, 24). O capítulo quinto da carta de Tiago faz coro a essa mesma doutrina com dura condenação dos ricos proprietários que exploram o trabalho dos empregados: “E agora vocês ricos: comecem a chorar e a gemer por causa das desgraças que estão para cair sobre vocês. Suas riquezas estão podres…” (Tg 5,1-2).

Frei Justino Felix Stolf.

PAZ E BEM!

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